O transporte público gratuito deixou de ser apenas uma promessa e já faz parte da rotina de milhares de moradores do Entorno do Distrito Federal. Cristalina e Luziânia implantaram o sistema de tarifa zero em todas as linhas municipais, enquanto Valparaíso de Goiás aposta na gratuidade aos domingos para incentivar o comércio local. A medida, que traz alívio imediato ao bolso da população, também levanta questionamentos sobre sustentabilidade financeira e integração com o transporte intermunicipal, fundamental para quem trabalha ou estuda em Brasília.
Em Cristalina, a prefeitura anunciou oficialmente a tarifa zero como política pública permanente, ampliando o acesso de trabalhadores e estudantes ao centro urbano. Luziânia seguiu o mesmo caminho no fim de 2023, tornando-se uma das cidades pioneiras no Entorno a oferecer ônibus gratuitos todos os dias. Já em Valparaíso, a gratuidade parcial aos domingos faz parte de uma estratégia de fortalecimento da economia local.
Paralelamente, o Governo de Goiás e o Distrito Federal discutem a criação de um consórcio interfederativo para custear o transporte semiurbano. A ideia é compartilhar responsabilidades entre estados e União, com subsídios diretos às passagens. A medida surge após debates sobre reajustes tarifários que poderiam pesar no bolso dos usuários e busca abrir espaço para uma política regional mais ampla de gratuidade ou redução de tarifas.
Apesar dos avanços, a principal pergunta permanece: quem paga a conta? Especialistas alertam que, sem fontes de custeio claras, o modelo pode comprometer a qualidade do serviço. Experiências nacionais apontam que o financiamento costuma vir de impostos sobre combustíveis, multas de trânsito ou subsídios diretos dos cofres municipais e estaduais. No entanto, a definição dessas fontes ainda não foi detalhada na região.
Outro desafio é a integração entre os sistemas. A maioria dos moradores do Entorno precisa se deslocar diariamente até Brasília, e a gratuidade restrita ao perímetro urbano dos municípios ainda não resolve a questão da mobilidade intermunicipal. A criação de bilhetagem única e linhas integradas aparece como condição essencial para que a tarifa zero se torne de fato uma política de inclusão regional.
Enquanto isso, os passageiros comemoram. Em Luziânia, estudantes relatam economia significativa no orçamento mensal, antes comprometido com passagens que chegavam a ultrapassar R$ 200. Em Cristalina, trabalhadores destacam o ganho de tempo com linhas mais acessíveis e a possibilidade de novos deslocamentos dentro da cidade sem custo adicional.
O avanço da tarifa zero no Entorno do DF reflete um movimento nacional: segundo levantamentos setoriais, mais de 100 cidades brasileiras já adotaram algum modelo de gratuidade no transporte público. A experiência, ainda em construção, promete transformar o debate sobre mobilidade urbana e justiça social na região metropolitana que mais cresce no país.
Fontes: Prefeitura de Cristalina, Prefeitura de Luziânia, Prefeitura de Valparaíso de Goiás, Governo de Goiás, Governo do Distrito Federal, Agência Cora de Notícias, Agência Brasil, NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), estudos do WRI Brasil.